Shipper: Severo/Lílian/James

Classificação: +16

Disclaimer: Nenhum dos personagens citados na fanfic me pertence. Todos são propriedade da brilhante J.K. Rowling. O enredo, contudo, é uma realidade alternativa do enredo original. Aqui Lilian Evans se casou com Severo Snape.

Obs. Fic originalmente postada no dia 10 de fevereiro de 2011, para o challenge Realidade Alternativa, sendo a primeira que escrevi com uma censura mais elevada. Poucas palavras foram alteradas desde então.



Severo estava feliz, sorridente. A vida lhe presenteara com seu mais almejado sonho: ser amado por Lílian Evans. Ele a pediu em casamento, ela havia aceitado. Isso foi durante a guerra bruxa.

Os anos passaram e o bruxo das trevas caiu. O casal apaixonado não viveu feliz para sempre num casamento perfeito. Os filhos, tão sonhados por ela, não vieram. Quando a ruiva visitava suas amigas, Severo jamais a acompanhava, mesmo que se tratasse de uma comemoração especial. Ela desistira de tentar convencê-lo.

Sem filhos. Casa silenciosa. Poucos amigos em comum. Definitivamente não era um casamento perfeito. Apesar de tudo eles se amavam.

De repente ela passou a sair mais vezes, dizia que iria visitar as amigas. Severo via a esposa maquiar-se vaidosa. Lily deixara de ser apenas uma garota estudiosa de Hogwarts para tornar-se uma mulher linda, atraente. E ele temia vê-la sair tão bela. Desacompanhada.

Virou rotina, todas as quintas ela gastava mais de seu tempo em frente ao espelho. Enquanto passava batom ela notava sua beleza, confiante. Depois sorria, um sorriso maroto. Se xingava mentalmente pelo que estava fazendo. Admirava mais uma vez seu reflexo, então saía sem uma certeza do horário em que voltaria.

Do outro lado da cidade ficava seu destino, a mulher encontrara o homem que jurou desprezar. Embriagada ela gemia nos braços do amante.

James Potter fingia não se importar com o papel de amante. Dizia para si mesmo: “prazer sem compromissos”; “Mas talvez encontrar-se com uma mulher casada seja um compromisso perigoso demais” outra voz em sua cabeça lhe dizia.

Da primeira vez que se encontraram foi ao acaso, no aniversário do pequeno Neville. Sendo amantes tinham mais amigos em comum do que ela jamais teria com o marido.

Severo ficava sozinho em seu laboratório particular, envolvido com as poções que fazia sob encomenda para o hospital St. Mungus. O homem não gostava de festas, eram poucos os amigos que ele visitava. Em seus pensamentos ele via a imagem da esposa em frente ao espelho maquiando-se de forma sedutora. Ele via seu sorriso orgulhoso, maroto.

De alguma forma ele sabia que ela não estava na casa de Marlene. Algo na expressão vaidosa de Lily a denunciava, todas as quintas-feiras. Mas algo nele o fazia não sentir raiva, não ir atrás dela. Ele sabia que a mulher estava infeliz com a esterilidade do casal. Ele sabia o que ela buscava.

James Potter havia herdado a fortuna de seus pais. O jovem era dono de uma bela mansão, mas não era lá o cenário da traição. Encontrava-se com a ruiva numa casa mais simples, porém bonita e arrumada.

Nada naquela casa importava: nem a cozinha arrumada ou suas paredes bem pintadas, tampouco os móveis luxuosos da sala, que por não servirem mais à mansão estavam ali. Talvez algo importasse: o enorme sofá confortável e bem cuidado e, sobretudo, a cama espaçosa no quarto.

A cama. O lugar onde acabavam os encontros, quase todos. O lugar em que o perfume de lírios estava impregnado, a marca de Lily. E também havia o cheiro dos cigarros de menta, que passara a ser característica de James.

Primeiro ela fazia questão de beber do melhor vinho que ele pudesse oferecer, como se a bebida pudesse aliviar sua culpa. E toda vez que ambos se satisfaziam de prazer ela jurava que aquele fora o último encontro. Ele sorria malicioso sem nunca acreditar.

Mas o ultimo encontro viria. Tão de repente como da primeira vez que ela permitiu que Potter arrancasse suas roupas. Não uma despedida planejada por eles, nem por Severo, mas por um quarto personagem.

Numa quinta eles se encontraram sem saber o que a sexta lhes preparava. Ele despiu suas roupas, e ela gemeu de prazer naquela cama uma última vez. A cama que ainda guardaria suas lembranças por muito tempo. Como sempre, trocaram poucas palavras, suas bocas estavam demasiado ocupadas em dizer o que sentiam de outra forma.

Por ironia, ao sair, ela não jurou que aquele fora o último encontro. Ela não disse qualquer palavra. Lily apenas sorriu, não um sorriso malicioso, vaidoso ou maroto, apenas um sorriso meigo, um “até mais” mudo.

Lílian ainda amava Severo, sempre amaria seu marido, seu melhor amigo. Mas a mulher descobriu-se apaixonada pelo amante, algo que era mais do que uma mera atração. Um vínculo criado pelos encontros e por todas as vezes que ela se sentira sozinha nos aniversários e festas das amigas grifinórias. E estava disposta a jamais confessar isso.

Na sexta-feira a ruiva foi até o St. Mungus buscar o resultado de um exame que fizera há dois dias. Algo que com a ajuda das poções de Severo ela poderia fazer em casa, mas ela optou por ir até o hospital, logo após sair de seu emprego. O resultado vinha na forma de uma carta, que, no entanto, ela deveria buscar.

Andando por um corredor típico do ambiente – porém, um dos mais desertos, sendo mais próximo aos laboratórios do hospital – ela começou a abrir o envelope, distraída. Antes que pudesse ler qualquer coisa esbarrou em alguém, provavelmente um medi-bruxo.

- Me desculpe... James? O que faz aqui?

Após a surpresa o amante sorriu malicioso ao perceber que não precisaria esperar até a próxima quinta para rever a ruiva. Por que não um encontro diferente? Ergueu a mão direita mostrando uma pequena cicatriz, recente.

- Quebrei o pulso jogando quadribol. E você, ruivinha, o que faz aqui?

Ignorando o ambiente ao seu redor, James Potter começou a se aproximar da mulher a sua frente. Ele não se importava com outros olhos, queria sentir novamente o toque daqueles lábios que tanto lhe atraiam. No fundo ainda restava algo do sentimento que ele nutria pela garota que ela fora em Hogwarts.

- Eu... vim apenas buscar o resultado de um exame de rotina, nada importante. – ao contrário dele ela se importava com o lugar onde estavam – O que está fazendo?

Ele tocou seu rosto com a mão que fora o motivo de sua presença ali enquanto usava a outra para segurar sua cintura, mas sem impedir a mulher de se afastar, caso ela desejasse.

- Não é obvio? – sorria malicioso, estava tão perto que podia sentir a respiração da mulher à sua frente – Vou te beijar!

- Você enlouqueceu? – o tom de voz usado por ela tentava demonstrar que ela não queria beijá-lo, mas não fez qualquer menção de se afastar.

Ignorando seus protestos James Potter a empurrou contra a parede usando os lábios para percorrer de forma provocante toda a extensão entre seu pescoço e seus lábios.

- James... não podemos. – suas palavras mais se aproximavam de gemidos do que protestos naquele momento – Não aqui. Alguém pode...

Suas bocas estavam próximas, os amantes respiravam o mesmo ar. O olhar malicioso dele a seduzia. A mulher sentia seu coração bater acelerado, sabia do risco que corria, sabia que alguém poderia sair magoado dali. Com uma mão ela ainda segurava a carta, com a outra bagunçava ainda mais os cabelos de James Potter.

- Tudo que é proibido, é melhor. – ele afirmou e então seus lábios se tocaram levemente.

Teria sido um beijo acalorado.

- Lílian. – outra voz falou, uma voz que trazia em si seriedade e decepção.

- Severo?

Os amantes foram flagrados em seu quase-beijo. James se afastou sem saber se sorria e aproveitava para esfregar suas verdades na cara do rival ou se ficava quieto para protegê-la. Lílian ainda estava encostada à parede, sem saber o que dizer ou como agir, sequer sabia como organizar seus pensamentos. Ela não se reconhecia mais. O que fizera de sua vida? O que a levara até ali?

Severo estava sério, não deixava transparecer todas as emoções que sentia, e eram tantas. Talvez ele sempre tivesse uma certeza de que aquilo fosse acontecer. No entanto, não estava preparado para ver sua mulher com outro homem, principalmente com James Potter. Teve vontade de matá-lo, e não com um feitiço, mas com suas próprias mãos. E viu que a mulher que fora o anjo em sua vida não era santa, não era perfeita, mas ele ainda a amava.

- Severo... – ela falou novamente, com um tom de súplica agora.

- Conversamos em casa. – e saiu.

Por um momento ela olhou para o amante, ali parado também. O que estaria pensando? Precisava fazer uma escolha:

- Adeus, Potter.

***


- Severo... – a mulher falou após derramar tantas lágrimas em seu caminho, que optou por percorrer a pé.

- Lílian, - ele nunca a chamava de Lílian, apenas de Lily – prefiro que não fale mais sobre isso. Só me responda uma coisa...

- Severo, eu estou grávida!

Foi a informação mais inesperada daquele dia, e naquele momento ele não sabia se era boa ou ruim. Não sabia o que responder, definitivamente precisava pensar.

Só havia uma certeza, algumas coisas mudariam naquela casa.


Obs. Texto sem nexo, sem gênero, sem qualidade, sem nada. Apenas um quase-conto, quase-crônica, projeto de poesia que precisava ser escrito, que precisava ser postado. Apenas um punhado de pensamentos quase-soltos presos a um tempo no espaço.



Quase parada, quase em movimento, em uma dança de nome ainda indefinido. Apenas fingindo acompanhar a batida da música, permitindo que a semi-escuridão esconda o quão avidamente ela o devora com o olhar. Sentindo-se tão perdida, sabendo que não pertence a nenhum lugar.

Apenas observa, sentindo o tempo passar escorrendo entre seus dedos de longas unhas vermelhas (tão comuns ao mundo, tão distantes de si mesma). O tempo passa enquanto se esgotam suas chances de fazer de sua noite algo melhor que outro arrependimento. E ela sente o próprio mundo girar, enquanto um novo sol se prepara para nascer.

Mas a dor toma seus pés desabituados àquela estranha vida de noite repleta de luzes coloridas, onde não há lua nem estrelas. Talvez note que o mundo acaba lentamente. Mas nada importa como a maneira em que poderiam queimar. Não enquanto o tempo ainda contar.

Despertando-a de um mundo-quase-paralelo vêm as palavras tão parecidas com as construídas em seu diálogo mental. Todo o universo ao menos uma vez colaborando ao seu favor. A menina-mulher tem todo o mundo a seu dispor, mas não tem a si mesma. As palavras quase decoradas não saem, perde-se em palavras comuns e não planejadas. Palavras não poéticas, palavras tímidas e erradas.

E o mundo desaba, sua noite acaba antes que o sol possa seus cabelos desalinhados tocar. Seu anjo, mortal e pecador, desaparece entre a multidão imersa na noite e na não-poesia. Sem volta, sem uma doce despedida.

Para a jovem vampira a noite é apenas poesias, brigadeiro e filmes de cavaleiros em batalhas estelares. É apenas incompreensão e arrependimento. Mais uma vez a noite acaba e o mundo continua sem um final digno de Hollywood. Enquanto em algum lugar lá fora a lua cheia brilha para os que se dão ao luxo de confessarem-se apaixonados.

Em uma década passada, em um belo dia de céu azul e nuvens brancas de formas engraçadas a refletir tortuosamente o mundo, há uma criança na janela de uma casa. Uma janela comum, uma casa comum, uma rua comum. Nada em especial, exceto pelo olhar sonhador da criança na janela. Uma garota, cabelos claros e revoltos, indecisos entre cachos e fios lisos. Quatro anos de idade recém-completos e toda uma vida de escolhas diante de si.

Mas o que uma criança observa na janela em um dia tão belo para subir em árvores ou inventar um novo esporte? A resposta não poderia ser mais simples: observa outras crianças. Rostos jovens a interromper a quietude da rua com suas conversas e risadas, apenas o fim de outro dia de aulas.

A escola! É a escola que a garota observa através de cada uniforme, de cada mochila, de cada sorriso. E a menina sorri encantada. E olha para a mãe não muito distante com uma pergunta simples demais para uma criança:

- Mãe, quando vou para a escola?

O dia chegou, a eternidade de espera passou e foi a escola, despreocupada, apaixonada pela vida. Assustando a própria mãe em sua ausência de medo. Não chorou, não quis voltar, não receou. Correu na direção da professora sem temer a ausência materna. E descobriu ali, naquela mulher sorridente e atenciosa, outra mãe. Não compreendia os colegas que hesitavam em deixar o colo dos pais para adentrar aquele mundo voltado para as crianças.

Com o tempo aprendeu: mudavam os colegas, os professores e até mesmo as escolas. Mas sempre ficariam lembranças guardadas com um carinho especial.

A garota cresceu, como é natural da infância, seus cabelos lentamente abandonaram os cachos e os dias nublados hoje lhe parecem mais agradáveis do que dias ensolarados. Contudo, a escola continua sendo um sonho agradável para se pensar em um fim de tarde com certo romantismo.

É claro, não se recorda de cada dia que passou, não se recorda de cada nome que conheceu, tampouco suas faces gravou. Mas é um pouco de cada pessoa que encontrou no caminho que percorreu. Lembra-se ainda de algum dia perdido no tempo do jardim de infância, quando a professora (a quem chamavam “tia”) explicava para a turma quando usar ‘m’ e ‘n’ nas palavras. Assim como recorda do colega que corria ao colo da mesma professora nos dias de tempestade.

Recorda-se dos amores e de momentos que gostaria de esquecer. As broncas de uma professora na terceira série e a preguiça de calcular tantos números tediosos enquanto poderia viajar pelos primeiros livros em que as figuras já não importavam tanto. Tem na memória o conteúdo de um livro de ciências da quinta série, e ainda guarda para si a sensação da descoberta ao ler cada capítulo que ousou adiantar, ansiosa demais para esperar que as aulas viessem.

Alguns nomes ficaram, como o da professora que tinha o mesmo nome de uma música que fazia sucesso naquele ano. Assim como não poderia esquecer-se do professor que amava o número 15 e que não falava somente em matemática, mas insistia em boas maneiras e trazia consigo sempre um sorriso contagiante. Outras faces marcaram pelo tempo, como a professora de artes que a acompanhou por quase toda uma vida escolar, e a professora de espanhol, que com o passar de cinco anos ainda trocava o nome dos alunos.

Vieram aqueles que ficaram pouco tempo e gravaram um pedaço de si no coração (ou na mente) da menina que aos 13 anos apenas tinha certeza de seu amor pelas palavras. O professor de geografia, cujas aulas insistem em ecoar na mente sempre quando seu conteúdo por algum motivo é relembrado. Memórias que vêm acompanhadas de um sorriso nostálgico que sente falta até mesmo de broncas que assustavam mesmo as mais desorganizadas turmas.

Descobriu amizades passageiras e outras que seriam eternas ainda que os caminhos da vida as separassem (afinal, amizades que se formam pela opinião comum em discordar de todos não podem ser tão simples). E também entre seus mestres encontrou tal sentimento de amizade. As professoras de português, sempre tão gentis, interessavam-se ao saber dos sonhos da menina e de sua paixão pelos livros. E plantaram na memória aqueles complexos trabalhos em equipe que a principio pareciam tediosos e acabaram por tornar-se apenas outra desculpa para ser feliz.

Entre uma aula e outra encontrava o universo paralelo dos livros a ignorar as leis da física (a qual ainda não decidiu amar ou odiar). Ali onde também havia aulas, mas seu material exigia caldeirões de estanho e um livro monstruoso para que fizesse poções imaginárias e cuidasse de criaturas mágicas. Mas eles estavam sempre presentes, os mestres que poderiam ser amigos a ensinar sobre a vida ou fingir-se de carrascos apenas para esconder o amor pelo que faziam.

Quando se cansava das regras da gramática e das leis da ciência encontrava a alegria de mergulhar na história. Submergia nas aulas (ainda que, por vezes, tediosas a outros olhos) com um sorriso espontâneo, como se realmente visse o império romano ruir diante do teatro improvisado moldado no cenário das salas de aulas. E sabia que a qualquer momento a história poderia transformar-se em literatura.

E claro, jamais poderia esquecer-se das aulas de biologia que a fizeram encontrar uma das respostas para aquela velha pergunta da infância: “O que você vai ser quando crescer?" A resposta estava ali, entre aquelas aulas da genética que a encantava e os acirrados debates sobre o surgimento da vida. E contava os dias para que chegasse a próxima aula, para encontrar alguma surpresa que os livros não pudessem contar, achando que tudo ainda era pouco.

Uma das respostas, pois não se contentava com apenas uma. Já conhecia a outra desde um tempo em que as memórias confundiam-se em sonhos, mas a reencontraria nas aulas de literatura com o passar de cada ano. Na epifania de um professor apaixonado por Clarice Lispector, nas aulas daquele que lhe explicou que a arte nem sempre é bela, às vezes é apenas chocante, ou no discurso quase poético de certo mestre encantado pela poesia de Pessoa e Drummond.

E sabia, não poderia ter apenas uma resposta enquanto não provasse de ambas. A contragosto, o fim da jornada a alcançava. Não antes que um professor rigoroso lhe ensinasse que é possível obter uma nota máxima mesmo em matemática, e que um professor amigo (ou seria amigo professor?) a ensinasse a gostar da química que por dois anos tão intensamente odiara.

Continuou sonhando, continuou estudando e buscando o caminho certo. Redescobriu a língua inglesa que um dia ousara dizer odiar. Através de olhos quase tão jovens quanto os seus viu um pequeno pedaço das belezas do mundo que sonhava encontrar. Aprendeu que a maneira de ver o mundo não depende apenas do olhar, mas também da língua através da qual poderia se pronunciar.

Em seus dezoito anos vira tanto, mas tudo o que vira era quase nada. E lhe disseram: “Se escolher essa profissão acabará sendo professora.” Como uma praga ameaçavam. Mas a garota que um dia sonhara em ir para a escola sorria despreocupada, afinal ensinar também é arte!


Obs. Inspirado em acontecimentos e pessoas reais, por mais distantes que os fatos estejam na memória da autora. A imagem, contudo, foi retirada do site Deviantart e é nada menos que a representação de um professor que marcou e continua marcando muitas infâncias e adolescências em todo o mundo.




Game Over



Morrer sem dor.
Viver sem amor.


O destino escolhido, um caminho quase errado. Mas quase errado é quase certo, você sabe que é. Suba, vire à direita, chegue ao final por todos os caminhos possíveis. Vença, por mais que não ganhe nada.

Sorria sozinho,
Sem carinho.


O mundo lá fora passa, mas não passa por aqui. O som daqui é outro, foge através das cordas de uma guitarra digitalizada. Lá fora pode haver buzinas, pode haver gritos e som de tiros, mas aqui tudo é suave sob o som de elaborada música virtual. Pode haver, em algum lugar, o som da barriga roncando. Pode ser que exista a fome.

Fome? Estas mãos manchadas não lhe deixam conhece-la. Manchadas entre tons de chocolate e salgados corantes empacotados.

Julgam pela aparência
Inconscientes de sua consciência.


Deixe eu me aconchegar em seus braços e não perca o controle. Não deixe os zumbis devorarem seu cérebro. Valiosa massa cinzenta! Sei que minha presença é bem-vinda. Algo raro, considerando quem sou. Sendo a vilã dos amores platônicos e dos casais recém-separados.

Mas entre um copo de Coca-Cola e uma nova fase sou sua ausência de companhia. Sou sua estranha amiga, entre noites viradas e ensolaradas tardes perdidas. Costumo ser simpática com os que me recebem de braços abertos. Não sou a solução dos problemas, mas a fuga deles.

Das imaginárias viagens medievais
Nascem amizades absurdamente reais.


Vença, salve a pequena princesa dos perigos iminentes. Que princesa, afinal? Nenhuma há de suspirar diante do cavaleiro que você sempre almejou ser, do jovem gênio que já é. Nenhuma abandonaria a luz do sol por tua pequena presença sobre-humana.

Posso ver seus sonhos, posso ver seus medos, suas frustrações. Sou parte de você, não posso ser uma companhia afinal. Seria paradoxal.

Não vá tão longe, é claro que será grande, mas não para todos. Suas qualidades podem fazê-lo astro da história, não de Hollywood. Seus sonhos podem ser sua destruição, suas frustrações podem leva-lo de herói a vilão.

Sem esperar qualquer paixão
Sem sofrer a dor de uma traição.


Apenas siga brincando de eterna infância. Apenas troque brevemente este controle pelo teclado discreto de outras telas. Apenas finja viver, às vezes. Por que crescer, afinal, quando tudo o que se precisa está aqui? Quando a felicidade está em não procurar por ela.

Deixe que os anos passem suavemente, que modifiquem a face apenas para aprimorar a mente. Permita que o tempo o envolva em sabedoria. Então um dia, quando não formos mais inseparáveis, virá me buscar, por vezes, como um avelha e nostálgica amiga.

Morrer no amor
Viver sem dor.


Afinal, sou a solidão. Quando meu jogo acaba resta somente seguir minha solitária caminhada em busca de novas companhias.



Apaixonou-se. Sem explicação ou motivo real. Sem razão ou sem qualquer palavra em especial. Mal o conhecia, mas amou a possibilidade de tudo o que poderiam ser. A direção de seus próprios pensamentos ela pouco compreendia, mas sem questionar aceitou neles imergir.

Talvez houvesse algum sentido biológico, talvez fosse apenas pelo sorriso contagiante. E muito provavelmente havia um carinho próprio pelas discussões literárias que talvez pudessem se estender pelas madrugadas que nunca vieram. Talvez fosse pela coleção de “talvezes” que ele proporcionava.

Vivia no meio termo da ausência de controle do que não poderia fazer e ditar a si mesma o que o mundo poderia ver. Assim não desistia, tampouco seguia em frente. Vivia na esperança de mostrar-se digna de um conto de fadas moderno, de que um olhar fosse suficiente para uma paixão platônica tornar-se real.

Mil formas de amores brotavam ao seu redor, mas seguia adiante optando por seus imperfeitos amores imaginários. Imperfeitos apenas porque a perfeição também é um defeito. Vivia imersa nas memórias de mil declarações que jamais aconteceram.

Ao fim do dia não importavam os diálogos imaginários, sempre tão simétricos, apenas o caminho que traçavam. Não importavam os cenários, somente os personagens que os moldavam em seu caminhar distraído. Personagens baseados em uma pequena fração de realidade e todo um universo de imaginação e vaidade.

Por incontáveis vezes apaixonou-se traçando roteiros jamais cumpridos em sua comum realidade. Criava em seu mundo de fronteiras imaginárias amores irracionais que por uma noite durariam eternamente.

Não esperava, contudo, poesias e serenatas, tampouco enormes buquês de flores e amor incondicional por tempo incontável. Sequer esperava a eternidade de uma vida em conjunto. Apenas esperava pela coragem de um beijo roubado, pela ousadia de um cavalheiro apaixonado. Esperava pelo inesperado.

Não almejava pedidos e declarações que a obrigassem a decisões imutáveis. Não para um começo do que jamais ocorreu. Esperava apenas sentir-se a princesa que por escolha sempre foi.


Se alguém passeou pelo Reino Perdido deve ter notado que todos os textos anteriores foram exclusivamente literários. Contudo, hoje abro uma exceção para falar de um blog parceiro que merece um espaço especial aqui.

"A Decadência do Anjo é um blog escrito por uma turma que está começando a percorrer a trilha da blogosfera e buscando seu espaço entre as preferências do leitor. O "jeitinho de iniciante" é exclusivamente sobre a questão blog, porque quando o papo é literatura, Érica, Gilson e Lucas (os autores da Decadência) dão um show a parte."

Recentemente o João (do blog Sede de palavras) passou a fazer parte da equipe de autores do blog em questão. Mas você, que gosta não apenas de ler, mas também de escrever, pode ser o próximo a participar dessa ideia que está dando certo!

"Esperamos ler você por lá!"

Obs. Os trechos entre aspas são de autoria do João e outra parte eu adaptei para cá.

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O tema é livre; são permitidos todos os tipos de texto, contanto que sejam literáriosO texto literário é aquele que usa a linguagem literária, um tipo de linguagem que atende fins estéticos para suscitar o interesse do leitor. O autor de literatura procura as palavras adequadas para expressar as suas ideias de forma cuidada e segundo um certo critério de estilo, de acordo com o site conceito.de. São exemplos de textos literários: contos, crônicas, poesias e poemas. Também serão aceitos textos dissertativo-argumentativos, fábulas e artigos de opinião, mas não serão aceitos dicionários ou bulas de remédios por motivos óbvios.
O texto deve conter no máximo três páginas de word (fonte: Calibri, 11), um título, início, meio e fim. 
Mesmo o tema sendo livre, o autor deverá definir um para si e segui-lo até o final.
E claro, não se esqueça que o seu texto precisa ser inédito!

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Você terá todo o direito de escolher sobre o que vai escrever e o que conterá em sua coluna. Cada autor terá um dia no blog. Por exemplo: Érica tem suas postagens às sextas, Lucas, aos sábados, Gilson aos domingos e João às sextas-feiras. Sobram então as segundas, as terças e as quintas, que serão os dias ocupados pelos autores selecionados. 

Mesmo que você não tenha disponibilidade em nenhum desses dias, há a opção de deixar a postagem pronta e então programá-la, assim o blogger a postará no dia certo automaticamente, mesmo que você não esteja online.

Dúvidas deverão ser enviadas para adecadenciadoanjo@hotmail.com.

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Embora apenas TRÊS inscritos possam ser selecionados por enquanto, todos os textos serão postados no blog. Assim, seu trabalho será divulgado e até valorizado. Se você possuir um blog e quiser mandar o link dele para que seja divulgado no final da postagem, também é válido.
Para não causar um emaranhado de textos, cada dia será postado um e dessa forma todos terão direito a um espaço no nosso local. Não perca essa oportunidade!



Disclaimer: Nenhum dos personagens citados na fanfic me pertence. Tom Riddle e Ariana Dumbledore são propriedade da diva J.K. Rowling.

Obs. Essa fanfic é uma realidade alternativa em que a irmã de Dumbledore não morreu.


Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?

(Eduardo e Mônica – Legião Urbana)


Ariana sorria. E de todas as suas características era o sorriso dela que Tom mais amava odiar.

Ele não soube quando percebeu, mas o sorriso dela era azul como a cor de seus olhos. Azul como a fita que ela ainda carregava em seus cabelos. A cor que ele jamais saberia ser, mas que desejava possuir em seu egoísmo natural. Desejava, pois sonhar era nobre demais para o jovem vilão.

Naquele primeiro de setembro Ariana sorria carregando traços da infância que nunca soube abandonar. Sem se importar com a presença do irmão mais velho. E sorridente caminhava para formar as amizades que definiriam sua vida (e sua morte).

E foi assim ao acaso que o azul-céu invadiu a vida do jovem Tom Riddle.

- Posso ficar nesta cabine? – perguntou docemente a garota, doce como deveriam ser os algodões do céu.

E querendo recusar Tom aceitou. Talvez ela pudesse pintar sua vida sem cores. Pois o céu não tem tamanho.

- Meu nome é Ariana Dumbledore. E o seu?

Ele conhecia aquele sobrenome, e sabia de onde. Apenas não conhecia a garota que, sem timidez, carregava em forma de fita nos cabelos dourados a criança que sempre seria.

- Tom Riddle – com desgosto anunciou seu nome.

Todas as suas atitudes eram o oposto de Ariana. Ele era o preto no branco, a maldade coberta de mentiras. Ela era todos os tons de um dia ensolarado, todos os tons de sincera felicidade. E era, sobretudo, o azul do céu – sem explicação, feito somente para admirar, para amar. Feito para inspirar poesias. Azul que fora pintado nos olhos dela.

Entre diálogos quase-mudos formou-se o começo da amizade colorida. Um erro do destino, pois a vida de Ariana era somente um acaso.

Tom odiava todas as cores que se abriam sob os passos da garota. Odiava seu sorriso, porque a alegria alheia o irritava. Mas não soube evitar sua presença, não soube evitar o diálogo entre duas crianças que tinham em comum a ansiedade por um mundo de magia.

Casas, quadribol, feitiços, professores. Tudo ela lhe contou. O mundo de uma garota que conhecia Hogwarts todo verão através da presença dos irmãos. Que pintava o castelo em seus sonhos e suas primeiras telas.

Juntos vislumbraram as luzes do castelo sob o céu estrelado. Um tom de azul que Ariana aprenderia a ser: o azul-noite. Azul manchado de negro. Era então Ariana na companhia de Tom.

Tudo poderia acabar onde começou; separados pelo chapéu seletor. Ela Gryffindor. Ele Slytherin. Deveriam ser apenas desconhecidos de mundos paralelos. Entretanto, foi a distância que os uniu.

Mesmo odiando os sorrisos azuis, e não aprovando a fita que Ariana não sabia abandonar, Tom Riddle aprendeu a provar o estranho sabor da felicidade ao lado da jovem Gryffindor. Receoso provava aos poucos da felicidade inocente demais para o garoto que somente sabia sorrir diante de suas maldades cometidas.

E, afinal, não havia sentido naquela estranha amizade colorida. Não havia motivos para aquele confuso sentimento, que brotou numa tarde ensolarada de setembro para nunca morrer.

Guerras viriam pelas mãos tiranas dele, obras de arte nasceriam da ponta dos delicados dedos dela. Viviam de opostos que nem a física explicaria.

E mesmo quando o coração dela parou de bater, uma triste escolha por não conseguir ver o que sempre esteve diante de si, o sentimento ainda habitaria o coração de pedra do vilão. Num bagunçado ateliê, entre tintas e sangue destacava-se a fita azul que ele escolheu levar consigo nas guerras sem causa que apenas começavam.

E quando sobre as ruínas de um castelo finalmente o corpo do velho Tom caísse, a fita azul seria levada pelo vento. Seria levada para o céu, para Ariana talvez. Azul no azul. Pois como não se vive para sempre também não é possível ter os tons do céu só para si.

Ela era o seu pedaço de sincera felicidade.

Ele era o seu pedaço de pura maldade.


O vento imundo que aqui sobrevive
Veio das montanhas geladas,
De terras quase imaculadas,
Ao extremo sul, onde jamais estive.


A brisa que vejo espalhar o lixo,
Por quantas terras terá passado?
Talvez Icebergs tenha moldado.


E neste começo de verão
Vejo restos de vidas soprados.
Anotações, números e latas rejeitados.
A cidade não é bela então.


Nada é belo por aqui agora,
Há apenas pedaços de poluição.
E ruínas do que foi outrora.


Nem a música alta me atinge
Nem a promocional cor vibrante
Tampouco a miséria chocante.
E um dia chuvoso não me aflige.


Escolho melodias esquecidas.
Prefiro cores quase naturais,
Sofrimento é parte de rotinas perdidas.


Então apenas caminho contra o vento,
E o mundo da selva-de-pedra ignoro
Como se fosse o último, vivo este momento,
Ao caminhar, poesias inventadas decoro.


Caminho para casa, numa indesejada rotina,
Quem dera fosse até onde nasce o vento.
Onde as cores não se repetem a cada esquina.

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