Shipper: Helena Havenclaw/ Barão Sangrento

Narrada Por: Barão Sangrento

Disclaimer Nenhum dos personagens citados na poesia me pertence. Eles são propriedade da diva J.K. Rowling.




Helena de Hogwarts

Antes de pisar nesta terra
Famoso já era teu nome, pequena
Por uma outra Helena
Causadora de guerra.

Talvez seja uma maldição
De teu nome infeliz e belo
Perseguido por destruição.

Por ti, aquela que te deu a vida
Adoeceu em preocupação.
E eu, eternamente uma alma perdida
Perdi naquela floresta meu coração.

Por temer a justiça divina
Hoje tu não vives mais
E também não morre jamais
E sem notar eu sigo tua sina.

Estou assim condenado
A uma eternidade de solidão
Para estar sempre ao teu lado.

Mas uma bela Helena
Sem poesia ou canção
Não seria plena.

Censura: 18 (fala de sexo e violência)

Gênero: Drama

Dedicatória: Para a Veh, que leu primeiro e ajudou a arrumar uns erros básicos. Obrigada! *-*




Eu sou apenas mais uma pessoa que poderia ter sido tudo na vida, alguém que poderia ter sido qualquer coisa. E obviamente, fiz minhas escolhas. Se foram boas ou ruins, não posso julgar. Apenas acho que chegou a hora de contar minha história, falar das escolhas que fiz, ou das que deixei de fazer.

Aqui sob o céu azul de Paris, diante da bela paisagem desta cidade que se tornou meu lar, escreverei algumas palavras do dia que teria marcado a vida de muitas mulheres. O dia que teria feito muitas abandonarem a vida ou tornarem-se pessoas drogadas e repletas de falsos vícios. Para mim: o dia que me fez descobrir quem realmente sou.

Não sei ainda se as palavras soarão agradáveis ou se... bem, não importa. Esse é apenas um pedaço do meu ser: para sempre separado por um véu invisível do resto da sociedade, da realidade e das atitudes comuns.

Nasci numa cidade quase sempre nublada – num país de terceiro mundo – que tenta falsamente imitar o clima europeu. Jamais tive a beleza como principal qualidade, por certos momentos, talvez eu nem a tivesse. Não era tão vaidosa, mas sempre fui inteligente. Sempre.

Lembro-me perfeitamente – embora tenha tentado esquecer – de quando comecei a escutar seus passos. Recordo-me das luzes que não vi naquela noite, do medo confuso que senti. E da forma como ri internamente da minha suposta mente fértil. Mas não era um engano, ele estava atrás de mim. Eu era sua vítima naquela noite.

E você deve estar se perguntando: Quem é ele? Ou talvez: O que é você? Mas eu disse que sou apenas uma pessoa, não deixe sua imaginação ir tão longe. Não desta vez.

Apressei o passo, apertei com força as alças da mochila cor de rosa, suja e surrada. E me amaldiçoei mentalmente por ter saído tão tarde da faculdade. Procurei pela presença de outro ser vivo pela rua. Não havia qualquer pessoa por ali. Havia ele, mas não é deste tipo de pessoa que falo.

Seus passos cada vez mais próximos. O medo e a apreensão. E então ele estava próximo demais e começou por imobilizar meus braços. Como se eu fosse capaz de lutar e fugir. Não vou negar, eu bem que tentei. Chutei o ar e me sacudi inutilmente tentando escapar da força de seus braços.

Eu era uma garota de dezoito anos, me preocupava com livros, jogos virtuais e a faculdade de química. Jamais saberia me defender de qualquer forma que não envolvesse uma varinha mágica, sabres de luz ou telepatia – a magia tola que eu acreditava como uma criança. Tentei gritar também, mas de repente minha voz não existia.

Confesso que jamais consegui gritar em situações de pavor, ou em qualquer emoção forte demais. Por vezes pensei que isto estivesse relacionado com algum instinto de defesa ancestral em que o silêncio era necessário. Mas nada disso importa, talvez nem faça sentido agora.

Quem era ele? Chame-o como quiser. Covarde, criminoso, ladrão, assassino. Tantas outras palavras podem descrever sua maldade sem sentido. Mas não o chamem de psicopata, não acredito que se tratasse de um. Neste último caso eu não estaria aqui para lhe contar minha história.

Psicopata talvez seja uma palavra que descreva a mim. Não aquela criatura.

Era um homem que beirava os quarenta anos, deduzi. Fedia a cigarros baratos e sorria como um idiota. Não notei isso no começo, nunca fui tão observadora, mas percebi nos minutos indefinidos que se passaram depois.

Aquela era uma rua deserta, poucas casas, nenhuma iluminação. Havia terrenos baldios cobertos pela grama alta e algumas raras árvores frutíferas. Era um lugar perfeito para cometer um crime na calada da noite. Enquanto durante o dia era o lugar perfeito para as crianças brincarem na inocência de sua infância.

Alguns pensariam na perda da dignidade, eu pensei na possibilidade de morte. Uma morte vergonhosa digna daqueles jornais que não faziam parte de minha leitura. Eu não queria morrer, eu não desistiria da vida.

Mas eu desisti de lutar contra ele, me ocorreu que talvez depois de tudo ele fosse embora. A escuridão não me permitiu definir como era seu rosto, e agradeço por isto. Ali sobre a grama maltratada, de um lugar esquecido em meio à selva de pedra, vi aquele homem sem nome arrancar minha pesada mochila e depois fazer o mesmo com minhas roupas que ignoravam a moda.

Meu corpo foi jogado com força no chão irregular e senti a dor da queda e dos arranhões. Mas de que importavam pequenos arranhões diante do que eu sabia que viria? A força de seus braços trouxeram manchas escuras que demorariam a sumir de minha pele. E por mais que tenha me ameaçada com uma faca, por algum estranho motivo, nenhum sangue ela derramou naquela noite.

Eu jamais estivera nua diante de alguém. Eu não escolhera estar ali.

E como se eu fosse uma boneca inflável ele brincou comigo. Com suas mãos impuras tocou todo o meu corpo sem o meu consentimento. Sobre mim aquele desconhecido derramou-se em prazer diversas vezes. E eu sentia nas lágrimas não derramadas a vergonha de não fazer nada. Não gritei, mesmo quando teria forças para isto. Apenas desejei continuar viva, apesar de tudo.

E lembro-me de ter pensado no que fazer, como deveria reagir. Talvez ele desejasse ver o meu desespero, talvez quisesse me ouvir gritar e isso lhe desse o prazer. Talvez eu devesse ficar quieta. Até mesmo desejei ler pensamentos.

O fato é que permaneci quase imóvel enquanto ele se divertia. Aguentei as dores físicas e psicológicas em silêncio. Minha confusa personalidade me mandava ser assim. Aquele fino véu que sempre me separou da realidade fazia de meus pensamentos e minhas atitudes absurdas demais para que fizessem sentido.

Então ele se retirou de mim, arrumou a calça imunda e imagino que estivesse sorrindo pelo tom de voz que usou:

- Boa garota!

E com a faca em mãos saiu andando. Não o observei, apenas fitei o céu sem estrelas e sem luar daquela estranha noite. Desejei ter qualquer objeto que pudesse feri-lo seriamente em minha mochila. Eu devia ter corrido, devia tê-lo torturado e matado lentamente com minhas próprias mãos. Eu não queria ser uma boa garota.

Não havia mais a preocupação com a morte. E talvez neste momento eu até tenha desejado morrer. Fiquei ali tentando assimilar a realidade. Mas eu odeio a maldita realidade.

Depois de algum tempo indefinido levantei e tremula me vesti com as roupas sujas e até mesmo rasgadas, manchadas de sangue. Sangue que representava aquilo que eu jamais teria novamente.

Eu não estava tão longe de casa. E por instinto continuei meu caminho, sem saber que força me guiava. Abri a porta e fiquei contente quando não encontrei ninguém por lá. Não queria que meus pais me vissem daquela forma.

Tomei o banho mais longo de minha vida. Como se fosse possível lavar minha alma e minha memória. E como eu gostaria que fosse. As roupas e até mesmo os tênis que usei eu queimei desejando queimar a alma daquela criatura.

O que eu fiz então? Poderia ter cortado meus pulsos, ou seguido uma carreira religiosa para viver de boas lições sobre paz e moral. Poderia jamais ter retornado para casa e cobrar para fazer aquilo que me roubaram. Tantos caminhos distintos que outras em minha situação seguiram e ainda seguem.

Eu acredito apenas que segui mais mulher e mais adulta do que antes. E com uma decisão: jamais deixaria que novamente alguém tomasse uma decisão por mim. Finalmente aceitei o véu que sempre me envolveu, deixei que tomasse conta de mim.

Não contei sobre aquela noite para ninguém, jamais falei sobre ela em voz alta. Como se fosse apenas um borrão sem importância em minha vida. E afinal, foram apenas minutos em que eu desconhecia o futuro.

Hoje os que convivem comigo admiram ou odeiam minha personalidade peculiar. Ninguém jamais me vê chorar ou me emocionar fortemente. Leves sorrisos e discretos olhares bastam. No entanto, trabalho falando de sentimentos, de amores impossíveis e quase contos-de-fadas.

Descrevo em personagens sentimentos que nunca habitaram meu ser: intensos, extremos e até indiscretos. Enquanto fui alguém que sempre amou e odiou silenciosamente. E mesmo estes sentimentos abafados morreram naquela noite sem luar, sem estrelas.

Talvez eu seja assim: uma noite sem luar. Uma pessoa que não sente. Mesmo diante desta bela paisagem que alguns dizem ser romântica eu a admiro apenas com a mente. Nunca com o coração.

Uso a máscara de minha própria personalidade para esconder o ser insensível que habita em mim. E me pergunto se apenas eu posso ver o véu que me separa do mundo e dos sentimentos cruéis. Pois não são os monstros e toda a maldade, mas sim os sentimentos que nos matam. E matam intensamente.